Não há dúvida que a arte é um excelente veículo de expressão e de comunicação, e nesse sentido, a apresentação “O dever de memória” – jovens pelos direitos humanos “, a cargo da equipa do Projeto Unesco do Agrupamento de Escolas de Carregal foi muito elucidativa de como em contexto de sala de aula se pode abordar a temática do Holocausto, da Memória da 2ª Guerra Mundial, de forma criativa e diversificada, alicerçando os conhecimentos numa metodologia de trabalho do saber fazer e saber ser, competências essenciais ao perfil do aluno à saída da escolaridade obrigatória.
As reflexões do painel “Questionar o Holocausto através do género”, de Caroline François, do Mémorial de la Shoah, suscitaram vivo interesse e empatia. A intervenção recaiu no tema que traduz o sofrimento e a angústia das prisioneiras dos campos de concentração neste período histórico de horror, assunto transversal às várias áreas no sentido de contribuir para o perfil do aluno, que se pretende crítico e atento em sociedade, onde as questões do género e dos direitos humanos têm que estar acesas.
Impressionante a intervenção e as pesquisas “Vidas poupadas: uma viagem pelos arquivos diplomáticos”, de Margarida Lages, Diretora do Arquivo e Biblioteca do Instituto Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros, abordagens pedagógicas, de sublime importância no resgate da memória e na interpretação de elementos construtores dessa memória, dar voz a documentos, cartas e objetos e construir uma história individual e coletiva foi a ideia fundamental.
“Os Genocídios no Século XX: abordagem histórica e jurídica”, de Joel Kotek, Universidade Livre de Bruxelas, e a intervenção sobre “Os Justos” Portugueses” de Fernanda Matias e Maria Luísa Godinho, da Memoshóa, remeteram a plateia, para a fragilidade da vida e a necessidade de uma redobrada atenção social.
Foram três dias de reflexão e de muitas aprendizagens sobre a temática e de partilha de afetos. O ensino do holocausto não é um desafio fácil, por isso é necessário ter em atenção a abordagem realizada em contexto educativo, daí a pertinência desta formação de professores das várias áreas do saber, pois é um imperativo moral e atual, face ao ressurgimento do antissemitismo, ao negacionismo, à cultura de ódio e à xenofobia que grassam no mundo. É imperioso que este conteúdo, que ultrapassa os limites da disciplina de História, integre a aprendizagem dos nossos alunos no sentido de educar para a cidadania.
De registar, a título de balanço desta ação de formação, a pertinência dos conteúdos dos diversos painéis, assim como as propostas de trabalho educativo e a partilha de exemplos de boas práticas educativas, que se revestiram de elevada qualidade, com apoio em fontes e documentação fidedignas, disponibilizando variados recursos, propostas e metodologias de trabalho da temática, alicerçada nos valores de uma cultura democrática, pacífica e de respeito pelos direitos humanos, que se apresenta cada vez mais necessária na formação dos alunos no mundo onde assistimos a uma preocupante onda de intolerância, radicalismo e extremismo político.
Lembremos que, numa visão integradora do currículo, e numa abordagem transversal entre as várias áreas do saber, este tema se enquadra nos domínios da Estratégia Nacional da Educação para a Cidadania e contribui para o perfil do desempenho do aluno à saída da escolaridade obrigatória, em particular o relacionamento interpessoal e o pensamento crítico, para além do respeito pela diferença, em suma, pelos direitos humanos.
Por fim, agradecer o privilégio e a honra sentidos no Agrupamento de Escolas e no concelho de Carregal do Sal, berço do “Justo entre as Nações” Aristides de Sousa Mendes, em acolher um seminário de estudo ao mais alto nível, reconhecido pela Direção-Geral de Educação como de enorme importância na formação dos professores para a replicação destas aprendizagens nas escolas, constituindo assim um veículo para uma maior consciência cívica.
Uma última palavra de gratidão para a organização, que primou para que tudo decorresse com normalidade e rigor, FAZENDO ACONTECER, não há dúvida de que os participantes saíram mais enriquecidos, não apenas pelo que ouviram, mas também pela partilha de experiências que este tipo de eventos possibilita.
Fica a citação, de Edmund Burke: “Para que o mal triunfe, basta que os bons não façam nada.”.
Dores Fernandes e Josefa Reis
Fotos: Josefa Reis e Isabel Várzeas