Foi no passado dia 21 de setembro que teve lugar na Escola Secundária do Agrupamento de Escolas de Carregal do Sal, a inauguração da exposição “Chamem-me Stefan”. Acolhida através do projeto UNESCO “Dever de Memória – jovens pelos direitos Humanos”, esta exposição, uma iniciativa da Fundação Aristides de Sousa Mendes, contou com o apoio do Instituto de História Contemporânea e foi financiada com apoio do Instituto Diplomático, teve a curadoria e investigação da historiadora Cláudia Ninhos, em colaboração com Leah Rozenfeld Sills.
O design e a conceção gráfica foram da autoria de Susana Rosmaninho e Pedro Azevedo (Rosmaninho+Azevedo Arquitetos). Pensada para a itinerância por diversos espaços públicos, tem como público-alvo preferencial a comunidade educativa do 3.º ciclo e o ensino secundário, uma vez que explora diversos tópicos relacionados com o Holocausto e a Segunda Guerra Mundial.
Esta exposição conta a história de vida de Stefan Rozenfeld, uma criança nascida no seio de uma família de origem judaica, que tinha 5 anos quando a Alemanha invadiu o seu país. Łódź, a sua cidade natal, foi ocupada pelos alemães, mas graças aos esforços do pai, que se encontrava no estrangeiro, Stefan e a mãe abandonaram o território polaco pouco antes da abertura de um gueto, onde a população judaica foi encarcerada. Com um visto concedido, em Bordéus, pelo cônsul de Portugal, Aristides de Sousa Mendes, Stefan e os pais escaparam para os EUA, onde refizeram as suas vidas. No entanto, uma parte da família foi assassinada durante o Holocausto.
Neste dia da inauguração, estiveram presentes familiares do homenageado, que se deslocaram dos EUA para o efeito e familiares de Aristides de Sousa Mendes, que foram acolhidos, pela Sra. Diretora do Agrupamento, Dra. Maria João Marques, na sala dos grandes grupos da escola anfitriã. Na cerimónia, foram proferidas palavras sobre a importância dos testemunhos visuais e verbais de quem viveu de perto este acontecimento marcante, a sua filha, Leah Rozenfeld Sills, que de forma emotiva, pela oportunidade de partilhar a narrativa com o público do Agrupamento, o primeiro espaço de acolhimento no nosso país, escolhido por se localizar no concelho natal do diplomata que salvou a sua família, vincou que, muito provavelmente, esta seria vítima do holocausto, como acabou por ser o seu tio-avô, Piotr Rozenfeld (Peter). Sublinhou que tem para com o cônsul Sousa Mendes uma enorme dívida de gratidão, porque foi a sua coragem e bondade que permitiu a sua vida. Seguidamente, estendeu um agradecimento à ação da Sousa Mendes Foundation, liderada por Olivia Mattis, que tem primado por trazer à luz as histórias de vida de várias famílias de refugiados da 2ª Guerra Mundial, assim como à equipa do projeto UNESCO do AECS, constituída pelas docentes Josefa Reis, Dores do Carmo e Isabel Várzeas, pelo apoio incondicional para acolher esta iniciativa no AE de Carregal do Sal. De seguida, a Dra. Cláudia Ninhos partilhou com o público presente, a forma como teve conhecimento desta história, explanando o que representa esta narrativa visual, a nível pessoal e como historiadora e a importância dos testemunhos e das fontes para a educação histórica, reiterando por fim, agradecimentos aos envolvidos.
Foram, ainda, proferidas palavras emotivas pela Dra. Adelaide Rocha, presidente da FASM, que realçou a importância de todo o trabalho desenvolvido por quem colaborou nesta excelente exposição, que pretende divulgar e recordar o ato de coragem deste “Justo entre as Nações”, frisando que os valores que lhe estão subjacentes devem ser objeto de reflexão junto das novas gerações, face ao mundo difícil em que vivemos. A Sra. Vice-Presidente da Câmara Municipal, em representação do Sr. Presidente, reiterou as palavras de apreço e gratidão dos anteriores palestrantes, reforçando que é uma honra acolher esta iniciativa no Carregal do Sal, afirmando que o município está disponível para colaborar no que estiver ao seu alcance.
A concluir a sessão de inauguração, foi oferecido, pela Diretora do Agrupamento, num ato simbólico de reconhecimento, a Gérald Sousa Mendes, neto de ASM e a Leah Rozenfeld Sills, o emblemático elemento escultórico “Espiral da Memória- Aristides de Sousa Mendes”, da autoria da artista plástica Josefa Reis, que interveio para explicar a motivação e o simbolismo da obra. Após o lanche, servido na própria Escola, os convidados foram desafiados a realizar a pintura de um azulejo no Workshop “Mural – Ser Consciência”, um Livro de Honra, em azulejo e em constante construção a várias mãos, que regista e preserva as mensagens deixadas pelos grupos que, através do projeto “Dever de Memória”, visitam o Agrupamento e lugares de memória no contexto da temática desenvolvida.
A exposição vai continuar o seu caminho pelas escolas em Portugal. A colaboração da comunidade educativa é essencial para uma educação que se preconiza mais humanista!
Texto: Josefa Reis e Dores do Carmo
Fotos-Josefa Reis e Isabel Várzeas