“Pedras de Tropeço” e o Testemunho da Memória

Terry Mandel, norte-americana residente na Califórnia, descendente de uma família judaica alemã, deportada para os campos de concentração de Treblinka e Trawniki, ambos na Polónia, apresentou a história da sua família aos alunos de 10 º ano dos Cursos de Línguas e Humanidades e de Artes Visuais, estes últimos, acompanhados pela docente Isabel Várzeas. Esta atividade, organizada no âmbito do projeto “Dever de Memória – jovens pelos direitos humanos”, em colaboração com as disciplinas de História A e Desenho A, decorreu no dia dois de novembro, aquando do regresso desta oradora da cidade de Colónia, na Alemanha, onde foi participar na instalação de pedras de tropeço à frente da casa que foi propriedade dos seus avós e de onde foram deportados.

Esta obra escultórica, da autoria do artista Gunter Demnig, conhecida por “Stolpersteine”,

constitui uma homenagem às vítimas da perseguição nazi e encontra-se em várias cidades dos países ocupados pela Alemanha nazi, cujo objetivo é dar um nome às vítimas, que no campo de concentração eram resumidas a um número. Estas placas de cobre de cerca de 10cm², são fixadas na calçada, em frente da última morada da pessoa perseguida pelos nazis, judeu ou de outra minoria étnica, como ciganos ou mesmo alemães que por qualquer razão tivessem sido discriminados e assassinados.

As “pedras de tropeço”, são o maior memorial descentralizado do mundo. Gunter Demnig, espalhou “pedras de tropeço” por toda a Europa sendo que as primeiras 50 foram instaladas ilegalmente em Berlim em 1996. Passados 26 anos, são mais de 7 mil “pedras de tropeço” só na capital alemã e quase 60 mil por toda a Europa, de Norte a Sul, de Leste a Oeste, transformando visualmente a paisagem urbana e tornando-se motivo de visita no âmbito da temática da 2ª Guerra Mundial e do Holocausto. Estes elementos artísticos, transportam o observador ao passado, homenageando uma vida, um nome, uma existência, obrigando o observador a olhar para baixo.

De registar, que esta sessão de testemunho da memória foi possível graças ao generoso desafio lançado à docente Dores do Carmo, coordenadora do projeto UNESCO por Cookie Fischer, amiga desta descendente da família Kornberg e a quem muito agradecemos. Os alunos mostraram-se muito interessados, tendo participado ativamente na sessão, colocando questões pertinentes à preletora, a qual manifestou enorme regozijo pela postura assertiva dos alunos.

Desafiada, também no âmbito do projeto, a nossa oradora participou no Mural “Ser Consciência…”um livro de honra, feito em azulejo e a várias mãos, sem epílogo, edição em constante construção. Esta atividade de desenho e pintura em azulejo, dinamizada desde 2015, sob orientação da docente Josefa Reis, sub-coordenadora do projeto UNESCO, pretende preservar as mensagens que os grupos de visitantes à Casa do Passal, e a outros lugares de memória do concelho, e ao Agrupamento, registam com base na história de Aristides de Sousa Mendes, humanista natural de Cabanas de Viriato e na temática estruturante do projeto “Dever de Memória-Jovens pelos Direitos Humanos”.

Para concluir, a oradora foi recebida pelos membros da direção do Agrupamento, que se congratularam pela iniciativa, reforçando a necessidade da partilha de testemunhos, num tempo em que cada vez mais se apela à necessidade de preservar a história, reforçando o facto de a arte servir de veículo na construção de memórias individuais e coletivas. A Diretora do Agrupamento, Drª Maria João Marques, entregou, em forma de agradecimento, a Terry Mandel e a Cookie Fischer, o elemento escultórico “Espiral da Memória – Aristides de Sousa Mendes” e respetivo passaporte com memória descritiva, elementos emblemáticos da autoria de Josefa Reis, artista plástica e docente do Agrupamento.

«A arte não reproduz o que vemos. Ela faz-nos ver.» (Paul Klee)

Dores do Carmo e Josefa Reis

Fotos: Josefa Reis

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